Onde está o fim?

Presença, 2019
74 x 98 cm.
Papel e grafite em pó sobre papel.

A#2, 2019
120 x 141 cm.
Papel e grafite em pó sobre papel.

A#3, 2019
120 x 141 cm.
Papel e grafite em pó sobre papel.

A#4, 2019
120 x 141 cm.
Papel e grafite em pó sobre papel.

A impressão do fim.

Carolina Rocha é uma artista plástica cujo ponto de partida é o da experimentação, da relação ação-matéria e das questões que o processo lhe provoca. É dessa interação que precipitam – na significação química da palavra – as suas ideias e os seus rasgos até se transformarem em premissas.

 

Carolina dá lugar ao acidente, assume que o resultado é um fruto do acaso, tornando-se assim irrepetível e único. Permite que uma variável não controlada, fortuita, tenha um papel na sua criação. É a sua forma de privilegiar o processo.

 

Uma consideração de introito: perceber que as réplicas não são cópias. Cada uma resulta de um gesto (ação), um estímulo, num determinado momento. E é o tempo que determina a integridade da impressão.

 

Há um beleza poética na impossibilidade de repetir. Essa singularidade é uma identidade.

 

É bem sabido que o tempo é um escultor de renome. Já protagonizou inúmeras obras cinematográficas, literárias e ainda leva a existência pelo quotidiano dentro.

 

Onde está o fim? Pergunta a Carolina.

 

Este processo assemelha-se aos mecanismos da memória.

No exercício de recorrer à nossa sedimentação mental vamos obtendo diferentes impressões ao longo do tempo: uma memória fresca é vívida e vai-se esvaindo. Ao original vão-se reportando imagens com cadências evolutivas cada vez mais ténues, menos vigorosas e precisas. Deixar-se secar o estímulo é permitir que desvaneçam. Tal como o fim que a Carolina omite.

 

Diria, no fim teremos um papel outra vez branco, inimpressionável. A impressão só existe se houver substância, isto é, presença.

 

Quererá ela relembrar a finitude com que nos confrontamos? E com isso a probabilidade de desaparecermos da memória dos que ficam, até que não haja vestígio da nossa passagem pela terra? Será um apelo à revisitação da memória, a única catalisação que possibilitará a manutenção da substância ativa?

 

O título presença que a Carolina dá ao original, confere uma pista, como um fotografia antiga que fortuitamente encontramos num livro. A importância do vestígio na memória.

 

Num plano mais lato poder-se-á potenciar o raciocínio à memória colectiva no sentido da preservação desse que é o nosso património histórico e emocional e de possibilitar que este continue a causar impressões.

 

Sara Leal, 2021/2022,
publicado na Revista Grotta – Arquipélago de Escritores; Letras Lavadas Edições e autores.

Política de Privacidade
2024 © Carolina Rocha